sábado, 5 de setembro de 2015

05.09.2015 - Filme Francês

Ontem eu estava no clima de ver algum filmezinho mais calmo, daqueles que gosto de ver sozinha. A ideia era ver o filme "grandes olhos" que é uma biografia dirigida pelo Tim Burton. Mas o formato do filme não rodava na tv. Ai aproveitei pra ver alguns dos filmes que estavam perdidos pelo hd externo. E nisso encontrei o filme: "Les Emotifs Anonymes" um dos filmes franceses que baixei numa remeça só... eu as vezes baixo diversos filmes de uma vez e depois nem me lembro do que cada um deles se trata, acaba que quando vou assistir se torna uma surpresa. E foi isso que ocorreu hoje. E foi interessante pois o filme sortido parece ter calhado de vir na hora exata! Como se o destino tivesse preparado esse momento pra que eu visse o tal filme. Eu amei logo de cara, quando percebi que o filme ia retratar de forma humorada os dramas que algumas pessoas enfrentam, que parecem bobos, mas que muito afligem até mesmo em situações que deveriam ser "normais" pois geram interpretações erradas. Alguns conflitos pessoais como ansiedade, timidez, medos, insegurança, pânicos e essas coisas que nos brecam, que não nos deixam ir muito longe. Pra mim se tornou acima de tudo um filme especial (a nível, Amélie e Medianeras, meus preferidos no sentido "estilo de vida esquisito" que expõem as peculiaridades e mostram que estas são bem naturais mas são tantas vezes reprimidas. São filmes com os quais muito me identifico). Eu quase conseguia me ver em cada cena desse filme, já que o jeito atrapalhado dos personagens me faziam lembrar de diversas situações que vivi e reagi de forma semelhante. Eu resolvi que a foto de hoje seria um print desse filme, mesmo que eu já tivesse tirado uma melhor com outra ideia antes. Escolhi essa cena em que estão no restaurante e que super atrapalhados e desabituados ao ambiente nenhum dos dois sabiam o que fazer, apavorados nem mesmo a escolha de um prato no menu parecia uma tarefa fácil, acabaram sendo salvos pela sugestão do garçom. A dificuldade de iniciar o diálogo foi o que achei mais engraçado. Eu vivi isso tantas vezes e vi como olhando de fora é cômico, mas quando vivenciado era terrível rsrsrs e amei ver as dificuldades sociais serem representadas de forma tão doce como nesse filme. Eu vivo tentando melhorar nesse aspecto, sempre me esforçando pra ser menos patética, querendo mostrar segurança e me propondo desafios malucos pra me libertar e tal... mas as vezes percebo que isso me faz lutar contra mim mesma, talvez eu deveria aceitar minha condição, já que por mais que eu lute, meu jeito desastrado sempre acaba por aparecer de uma forma ou de outra. Mas penso que crescer dentro das minhas possibilidades é o melhor caminho, mas não é fácil. Vou colocar aqui alguns prints que fiz depois com algumas citações que achei marcantes.

Basicamente creio que o que muito já dificultou minha vida amorosa era justamente esse dilema de não saber lhe dar com a proximidade de alguém, por não querer ter minha vida invadida. Quem se acostuma a ser só acaba se assustando como se fosse ameaçado com a presença de alguém, mesmo quando a pessoa que se aproxima tem boas intenções. É uma desconfiança crônica. Esse alguém mostra nosso lado vulnerável, já que tem um poder sobre o que você sente, e por mais que queira ter a pessoa por perto há aquele incomodo enorme que se junta a insegurança e ao medo e ai que as coisas tendem a dar errado. O envolvimento emocional sempre foi uma grande dificuldade minha, principalmente por não saber me expressar muito bem (muitas vezes reagindo de formas irracionais ou frias) e porque meus pontos de vista são diferentes dos padrões de hoje. São coisinhas que somadas geram barreiras. Eu adoraria não ser tão complicada a troco de nada, sempre tive vergonha de admitir esse tipo de problema pois considero isso patético e inaceitável, mas é inegável o quanto já me deixei levar por esse medo de não saber no que vai dar e acabava que isso não dava em nada, só em frustração. O dilema é que existe uma pressão enorme nisso tudo. A pressão que pessoas assim inseguras impõem sobre si mesmas e a pressão de ter que corresponder ao outro, que geralmente não entende essas "frescuras". Por isso é sempre mais fácil desistir. Você tenta se adequar a algo que não condiz com o que você é, a pessoa te cobra isso, mas e quando ao lado fragilizado? Este sempre é apontado como falha e nem sempre visto como parte da pessoa também, não levado em conta... e geralmente isso se torna catastrófico. Porque esconder isso além de não ser fácil também pode piorar a situação.


Quando fui fazer minha primeira tattoo eu vi mais claramente um problema que eu tinha de encarar as coisas. Era um dia especial pra mim e há tempos eu estava planejando fazer uma tatuagem. Eu não tinha medo da dor, não tinha medo de me arrepender, tinha eu mesma escolhido e elaborado o desenho, tinha confiança no trabalho do tatuador, tinha o dinheiro, tinha tempo, tinha certeza. Tinha tudo pra dar certo. Mas quando estava na rua do estúdio eu tive um certo pânico. Eu passava perto e voltava, passava em frente e não conseguia entrar. E não entendia o porque eu estava reagindo desse jeito maluco. Dentro da minha cabeça me questionava: "Eu quero tanto, porque estou reagindo assim?" e "porque é tão difícil pra mim fazer até mesmo as coisas que quero?". Eu me sentia a mais idiota das criaturas. E não estava ansiosa sabe, não sou daquelas que até sentem vontade de ir ao banheiro, mas estava tomada por uma sensação ruim que não era física. Era bizarro pois eu estava calma e ao mesmo tempo apavorada. E o que mais me confundia é que eu estava assustada mas não sabia com o quê. Era um medo irracional. No fim eu acabei me empurrando e entrando, (lembro que pisei de olhos fechados e tudo kkkkk) foi difícil, mas foi entrar lá pra tudo isso passar. Eu nunca contei isso a ninguém, (sabendo que não iriam compreender) vendo esse filme me lembrei desse episódio. Já passei por outros momentos do tipo, mas esse do dia da tatuagem foi o mais bizarro, pois prestes a realizar um sonho me veio esse medo sem lógica que trás consigo uma sensação de impotência terrível. O pior é se sentir ridicularizada por não entender a si mesma.

Outra coisa que não tive como deixar de ver minha vida quando acompanhava o filme foi no final quando no grupo de emotivos anônimos Jean-René depois de seguir sua amada entra e confessa seus medos e também seu amor por Angélique. Mas ela reage de uma forma inesperada. Ela reage da mesma forma que eu já reagi diversas vezes. E começa assim:

"Sinto muito, mas não vai dar/Eu amo você e sei que você me ama/Mas seria um desastre/Passaríamos a conhecer nossos defeitos, nossas manias/Nós nos magoaríamos e não diríamos nada. Acabaríamos nos detestando e não quero isso/[...]/Não ajudaríamos um ao outro.

depois termina com as frases do print a seguir:


Eu vivo esbarrando com pessoas maravilhosas, mas realmente não estive disposta a me afogar com nenhuma delas. Eu optava então por me afogar sozinha. Abri mão tantas vezes de pessoas de quem eu amava justamente por isso de não me achar capaz de ajudar alguém a ser feliz. Infelizmente acontece de mesmo gostando da pessoa a proximidade acabar por fazer mais mal do que bem. Não dependendo só da disposição pra que tudo dê certo.
Até certo tempo achei que era mais feliz quem soubesse esconder melhor seus problemas, disfarçando mais eficazmente esses impasses. Mas esconder, disfarçar não é uma solução, na realidade cria só mais problemas... e hoje vejo que é mais feliz quem sabe se aceitar e conviver com seus próprios infortúnios, os amenizando ou aprendendo a lhe dar com seus aspectos menos favoráveis de forma que não se deixe dominar por eles. E esconder pra mim não daria certo mesmo, já que ruborizada não há falsa indiferença que me salve rsrs.

"A maioria das pessoas não sabe que sou emotivo/ Eu nunca conto, escondo como posso/ As pessoas têm a impressão contrária/ Me acham seguro/ Me acham até rude ou severo/ E pegam pesado comigo/ Se permitem tudo/ Elas me confrontam e fico mal/ Escondo que estou mal e me acham ainda mais rude/ É um círculo vicioso."

Eu melhorei bastante da timidez, da insegurança, aceito bem melhor minha própria condição, mas ainda tenho que lhe dar com elas diariamente. Atualmente tenho vivido algo muito bacana, e é bom ter a liberdade de ser você mesma sem se preocupar de esconder até esses detalhes desajeitados e estar por perto de alguém que parece saber como você se sente e te dá o tempo e espaço que você precisa pra respirar, isso faz toda a diferença.

Porque gosto de filmes assim e particularmente dos franceses? Bom não tem nada a ver com ser "cult" e nem por ter romancinho, na realidade quanto mais simples o filme mais acabo me encantando. O que mais amo nesse tipo de filme é a delicadeza de saber tocar no ponto certo, de cutucar a ferida. Pontos que no dia-a-dia tentamos a todo custo ocultar. Amo como ressaltam aquilo que normalmente nos custam um belo esforço pra fazer parecer irrelevante. Adoro como os filmes conseguem expressar e nos fazer sentir sempre os sentimentos que buscamos reprimir, exibindo nossa natureza de forma exagerada para que assim possamos identificá-las, gerando um conflito interno, colocando-nos de frente com sua própria realidade. Retratando o que ninguém quer lembrar. É isso que me encanta, a sensibilidade de colocar em cenas e em diálogos situações capazes de causar reflexão. Que emocionam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário