segunda-feira, 13 de abril de 2015

13.04.2015 Gentalha

Hoje fui pra Jundiaí de novo. Infelizmente o que eu tinha planejado pra hoje #fail, mas ainda assim o dia valeu a pena. Já a caminho de volta pra casa estava no viaduto quando olho pra baixo na 9 de Julho, um homem vestido de Quico, um artista de rua, com seu diabolo yoyo. Eu achei divertido, peguei a câmera e fui dar meus cliques, o zoom quase no máximo para conseguir puxar a imagem, e ainda assim quando percebo o "Quico" tinha me visto, fez cara de bravo, apontou, fingiu chorar e por fim riu. Foi um momento bacana. Depois até consegui filmá-lo de longe, pena que eu já estava de partida se não iria colaborar. Da última vez que fui pra lá num outro semáforo havia um rapaz latino fazendo malabares e ouvi dois engomadinhos dizendo: "isso sim que é ganhar a vida fácil" apontando pro rapaz em questão. Mas a realidade é que se sujeitar a esse estilo de vida não é tão fácil como os dois engravatados falaram. É preciso mais coragem do que parece. Artistas de rua se submetem ao Sol quente, ao descaso humano, fora que tem que lhe dar com gente assim que não respeita, que acha que qualquer um que não siga o padrãozinho é "vagabundo", desvalorizando as habilidades das pessoas, a arte, sim arte porque não é todo mundo que consegue se dedicar a algo assim para se manter. Pra eles que trabalham sentados nas cadeirinhas estofadas em salas com ar condicionado, dentro de quatro paredes é bem fácil criticar a vida alheia. Se não gosta é simples, não ajude, não precisa desdenhar. Sei que pra chegar nesse "emprego confortável" a pessoa estudou e tal, mas um diploma não te torna mais gente que outra pessoa que seguiu um estilo mais livre. Na realidade muitas vezes o que eu vejo é o contrário. A pessoa sobre um pouco na vida, mas se torna baixa. Essa sim é a verdadeira gentalha. De sorte que não se pode generalizar. O que eu gosto mais em artistas de rua, nem sempre é a arte que apresentam, mas sim que há sempre um lado humano de trazer mais graça a vida, de estar ali no meio da correria e interagir mesmo sabendo que nem sempre as pessoas irão retribuir. Tudo que é feito com essa paixão me cativa.
Dentro dos ônibus mais um episódio de "história de busão" rsrs. Ônibus novamente super lotado, eu consegui ler um capítulo do livro e depois cedi meu lugar, e até ali achei que seria só mais um trajeto normal. Na primeira parada as coisas já começaram a desandar. Um sujeito meio perturbado, não sei se havia bebido ou se gostava de causar entrou reclamando do letreiro que estava apagado. Ficou uns bons 5 minutos discutindo com o motorista, o clima no ônibus ficou meio tenso, as pessoas já começavam a se incomodar, até que um rapaz lá do fundo ficou invocado e interferiu começando uma nova discussão mandando o sujeito calar a boca e deixar o motorista em paz. O sujeito enfim se calou e foi se espremer no meio do povo mais no fundo. Depois disso parecia que os ânimos tinham se acalmado. Até que depois de algumas paradas o motorista se levantou visivelmente transtornado, estava vermelho de raiva, e disse em alto e bom tom que estavam apertando o sinal de parada havia sete vezes e que ninguém descia, fazendo com que ele perdesse tempo e se passasse por idiota. Ele estava realmente nervoso e ameaçou andar o restante do trajeto a 10 por hora se aquilo se repetisse. Mal o ônibus arrancou e acionaram o sinal de parada novamente. Todos no ônibus começaram a cochichar caçando um possível culpado e apreensivos de que ninguém descesse. Claro que todos começaram na hora a suspeitar do sujeito que tinha discutido com o motorista por conta do letreiro. Ele estava lá sorridente e debochado, e todos o olhavam com cara feia. Eu puxei papo com umas pessoas a minha volta numa tentativa de não perder o bom humor. Também precisava chegar em casa cedo tinha que sair e não dava pra me atrasar. Ai o ônibus parou no ponto e novamente ninguém desceu. [confesso que quase desci só pra não piorar as coisas, não fosse o compromisso que tinha em seguida, teria descido]. Depois foi aquele silêncio de apreensão, levou um tempo até o ônibus voltar a se movimentar. E quando voltou vimos que o motorista não estava pra brincadeira. O ônibus seguiu num ritmo tão lerdo, que parecia que indo a pé chegaríamos primeiro. Parecia que a brincadeira tinha acabado, até a campainha de parada ser acionada de novo. Ai algumas pessoas começaram a desconfiar, poderia ser que estivesse com problemas. Umas pessoas se revoltaram, uma mulher em especial que estava perto do motorista estava alterada. Dizendo que não era justo que todos pagassem pela brincadeira infeliz de alguém. Outros argumentavam que o sinal de parada tava com problemas, mas o motorista retrucava e seguia em frente o mais devagar possível. Outras pessoas com suas expressões de raiva miravam o olhar no sujeito encrenqueiro. Passei a reparar quando o sinal era acionado e realmente constatei que havia um defeito. Sempre que o ônibus fechava as portas o sinal automaticamente tocava. Outras pessoas também notaram, mas o motorista só cedeu depois de ficar de saco cheio da mulher reclamando na orelha dele e quando enfim o sujeito encrenqueiro desceu e a campainha continuou doida. Ai foi outro transtorno quando o motorista passava reto e não parava mais nos pontos. Então foi na base da gritaria para conseguir descer rsrs. Eu mesma com minha saudosa voz de criancinha quase que vou dar um rolê bônus, por sorte algumas pessoas me ajudaram e o motorista parou. Ai até descobri que uma das mulheres com quem conversei no ônibus era minha vizinha. E voltamos juntas.
Analisando o episódio de hoje de "histórias do busão" penso em como as pessoas são meio doidas. O sujeito encrenqueiro que discutiu com o motorista se queimou a ponto de ser odiado por boa parte das pessoas e ter levado a culpa por algo injustamente. O motorista irritadiço que deu um showzinho quando ficou bravo, descontou sua fúria atrasando todo mundo quando diminuiu a velocidade e tudo isso em vão já que ninguém tinha culpa, e ele acabou fazendo mais papel de idiota ainda. Hoje em dia dificilmente esse tipo de coisa me irrita, e felizmente me mantive bem humorada. A falta de educação das pessoas é algo que sempre me impressiona. Seja o sem noção, o motorista ou as pessoas que se sentiram no direito de ser rudes. Gentalhas, não por estarem num transporte publico, mas por não saber falar, por tratar as coisas tudo na base da ignorância, onde ao invés de chegar num acordo só se arruma mais confusão. Eu sinto pena e vergonha na verdade. Tamanho desperdício de energia pra algo que não vale a pena. Acho triste que se fosse um tempo atrás eu tenho certeza que seria uma das pessoas a ficar reclamando em voz alta, de ficar indignada e caçar um culpado, eu meio que tinha o dom de por lenha na fogueira. Costumava ser estressadinha, e hoje dou tão pouca importância pra esse tipo de coisa que até me espanto. Vai ver ficar longe do trabalho irritante me curou definitivamente rsrsrs Meus episódios de chiliques nervosos parecem ter acabado, e hoje vejo o quanto perdi quando perdia a cabeça, depois tinha que lhe dar com a culpa por ter passado dos limites e ficava envergonhada de perder a razão por tão pouco. Por essas e outras acho libertador conseguir rir das coisas ao invés de ser atingida por elas.

"Quico" ao se dar conta do flagrante rsrsrs

Um comentário: